A idade do saber – Mário Sérgio Cortella
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O mundo está mudando, bradam muitos, ainda atordoados pelas dificuldades que a escola encontra, hoje, para dar conta do que a ela atribuem. A questão central não é a mudança em si, mas o modo como nos preparamos para enfrentá-la ou aproveitá-la. Está na hora de praticarmos com mais afinco o que costumamos dizer aos alunos e às alunas: aprender sempre é o que mais impede que nos tornemos prisioneiros de situações que, por serem inéditas, não saberíamos enfrentar. Temos um “defeito” natural que acaba por se tornar nossa maior vantagem: não nascemos sabendo.

Por isso, aqueles ou aquelas entre nós que imaginarem que nada mais precisam aprender ou, pior ainda, que não têm mais idade para aprender, estão se enclausurando dentro de um limite que desumaniza e, ao mesmo tempo, torna frágil a principal habilidade humana: a audácia de escapar daquilo que parece não ter saída.

Afinal, do nascimento ao final da existência individual, aprendemos (e ensinamos) sem parar; o que caracteriza um ser humano é a capacidade de inventar, criar, inovar, e isso é resultado do fato de não nascermos já prontos e acabados. Daí ser necessário rever nossa concepção sobre a fonte da competência. Ora, nos tempos atuais, ela é mais ainda uma condição coletiva. Até algum tempo atrás, a competência era entendida como algo individual; agora, tendo em vista a interdependência existente e a profusão de novos saberes em uma velocidade cada vez maior, é preciso pensar que, em um grupo, equipe ou instituição, se alguém perde ou diminui a sua competência, todos no grupo a perdem ou diminuem.

Nesse sentido, é urgente que haja na organização do trabalho uma permeabilidade de educação continuada, em que as pessoas estejam se educando permanente e reciprocamente. Portanto, é necessária a criação de um ambiente educativo, um ambiente pedagógico, no qual caiba a possibilidade de as pessoas se ensinarem e aprenderem ao mesmo tempo umas com as outras. Nessas organizações, devem imperar dois princípios: “quem sabe, reparte” e “quem não sabe, procura”. Tudo isso nos coloca um desafio: a capacidade de sermos mais flexíveis.

Porém, flexibilidade é diferente de volubilidade. Ser flexível significa ser capaz de, sem alterar seus princípios e valores básicos, enxergar e viver a realidade de outros modos; por sua vez, ser volúvel é mudar de posição ou opinião sem apoiar-se em convicções e simplesmente deixar-se levar pelas circunstâncias imediatas. A flexibilidade se caracteriza pela capacidade de romper amarras e preconceitos que tornam alguém refém de uma condição que, parecendo segura e confortável, pode ser indicadora de indigência e fragilidade intelectual. Vale sempre lembrar a frase do fictício detetive chinês Charlie Chan: “Mente humana é como pára-quedas, funciona melhor aberta.”